Toupeira adulterou processo contra o Benfica; Benfica nega ter sido avisado das buscas ao clube; Continuidade de Coentrão depende do salário; Sporting suspende ordenado de defesa e tenta rescisão amigável

A SAD do Sporting suspendeu o ordenado de Douglas durante seis meses e está ainda a tentar rescindir amigavelmente o contrato com o defesa-central, que apenas termina no final da próxima temporada. A decisão da administração leonina surgiu após o brasileiro, contratado no início da época passada, ter revelado nas redes sociais um controlo antidoping positivo, por uso de um diurético proibido pela WADA, escreve o Record.

Douglas, de 29 anos, assumiu o teste positivo em meados de fevereiro, com uma publicação no Instagram a explicar a utilização inadvertida da substância e a desresponsabilizar o Sporting, mas o caso já remonta a abril do ano passado, quando uma brigada antidopagem realizou um controlo surpresa na Academia em Alcochete. A substância, esclareceu também o central contratado ao Trabzonspor, foi tomada sem o conhecimento do departamento médico do Sporting. "Fi-lo, de forma ingénua, sem consultar ou dizer ao departamento médico do clube", partilhou. A sanção, que varia entre uma repreensão a dois anos de suspensão, ainda não é conhecida.

Além do castigo de seis meses sem vencimento, Douglas também não se tem treinado no quartel-general dos verdes e brancos. Segundo o diário, o central já não mantém a forma física com a equipa B, como habitualmente o fazia. Desde do início da época que o central não faz parte dos planos de Jorge Jesus, razão pela qual nem foi para estágio, mas desde então mantinha a forma com a equipa secundária dos leões, enquanto esperava por uma colocação. Desde fevereiro que a situação assumiu contornos diferentes e a saída é provável.

"É um clube no qual gostava de ficar até ao final da minha carreira." A declaração de Fábio Coentrão, em entrevista à ‘Marca’, traduz a vontade do lateral-esquerdo mas está longe de garantir a permanência no Sporting na próxima época. O fator chave, segundo o jornal Record apurou, será o vencimento do internacional português, na verdade o único ponto que parece ter força para condicionar a decisão dos clubes envolvidos e do jogador, em Alvalade por empréstimo do Real Madrid.

Se a questão fosse meramente desportiva, a dúvida quase não se colocaria, pois Coentrão está feliz no Sporting e os leões gostavam de mantê-lo no plantel. Tal só acontecerá, porém, se a componente financeira não for um obstáculo intransponível, isto é, mediante um salário compatível com a realidade da SAD verde e branca.

Coentrão ganha, pelo contrato com o Real Madrid, válido até 2019, um salário a rondar os 4 milhões de euros anuais livres de impostos, um valor muito acima do que é prática no Sporting. Aliás, a percentagem do ordenado suportada pelos leões é reduzida, não mais do que 1 milhão de euros desse total (2 milhões, com a carga fiscal e descontos associados). A distância é considerável, pelo que só poderá ser minimizada com cedências de ambos os lados. Um cenário que está em aberto, sabendo-se que a vontade de Coentrão terá peso importante. E se o vila-condense, a 24 horas de completar 30 anos, vê com agrado a possibilidade de terminar a carreira no Sporting, o primeiro passo para trabalhar um acordo estará dado.

O Sporting está muito atento à situação contratual de Coentrão e em contacto permanente com o Real Madrid, fruto das boas relações entre o team manager André Geraldes e o diretor geral dos merengues José Angél Sánchez. A SAD leonina mantém-se empenhada em encontrar uma solução que possa satisfazer todas as partes, na certeza de que os blancos não contam com Coentrão e querem contribuir para uma solução que satisfaça o defesa, dando-lhe autonomia para resolver o futuro. A convicção é de que o Real Madrid dará luz verde aos planos do camisola 5, desde que o tema do salário fique salvaguardado. O Sporting não está, por ora, a procurar alternativas no mercado, não de forma ativa entenda-se, mas é o que fará se entretanto não conseguir segurar Coentrão.

O técnico do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) colocado em prisão preventiva no âmbito da Operação E-Toupeira é suspeito de ter adulterado elementos de um dos processos que, no interesse do Benfica, espiava no sistema informático Citius. Esta é uma das situações mais graves imputadas a José Nogueira Silva no processo que levou à sua detenção, a par do assessor de Luís Filipe Vieira.

De acordo com informação recolhida pelo JN, este facto integra o conjunto de crimes informáticos dos quais é suspeito aquele funcionário que geria a plataforma informática nos tribunais de Fafe, Guimarães, Celorico e Cabeceiras de Basto, todos da comarca de Braga. Entre os ilícitos em causa estão burla informática, falsidade informática e acesso ilegítimo, além de corrupção, violação de segredo de justiça e favorecimento pessoal.

A adulteração do documento, presumivelmente num dos processos relativos ao Benfica, foi detetada numa auditoria do IGFEJ que serviu de ponto de partida para a investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária. Por perceber está exatamente qual o tipo de adulteração em causa e se chegou a ter algum efeito no referido processo.

A averiguação daquele instituto foi efetuada logo a seguir à abertura do inquérito, por proposta de Pedro Fonseca, um dos coordenadores da PJ no departamento de combate ao crime económico-fi- nanceiro. Desde o início, foi atribuída ao processo a classificação de confidencialidade “N4” (o grau máximo), o que significa que os suspeitos no inquérito pertencem ao sistema de justiça ou aos órgãos de polícia criminal.

Para concretizar as vigilâncias dos processos do interesse do Benfica – e que incluem inquéritos dos rivais FC Porto e Sporting –, foram utilizadas credenciais da procuradora Ana Paula Vitorino, que exerce funções de coadjuvação de Maria José Morgado, agora procuradora-geral distrital de Lisboa e uma das principais vozes no combate à corrupção em Portugal.

Conforme frisou em comunicado a Procuradoria-Geral da República, aquela magistrada nunca foi encarada como suspeita, pois não estava a par do desvio e utilização das suas credenciais de acesso ao Citius, por parte daquele funcio- nário do IGFEJ, ligado à Comarca de Braga.

Recorde-se que, conforme o JN ontem noticiou, as ligações entre Paulo Gonçalves e os funcionários judiciais toupeiras e ferrenhos benfiquistas José Nogueira Silva e Júlio Loureiro ficaram registadas em vigilâncias da PJ, em janeiro, no anel VIP do Estádio da Luz, quando torciam num jogo do Benfica. Porém, as autoridades procuram mais duas toupeiras dos encarnados, pois também foram detetados acessos ao inquérito dos emails a partir de tribunais da zona Centro.

O Benfica reagiu este sábado, em nota à Comunicação Social, à notícia publicada pelo Expresso, que dá conta que os encarnados tiveram conhecimento antecipado das buscas ao clube.
A notícia do semanário refere que os "documentos apreendidos a Paulo Gonçalves mostram que foi informado sobre investigações", sendo o aviso feito por uma "toupeira", provavelmente José Silva, o funcionário judicial detido preventivamente na sequência da operação E-Toupeira, que na terça-feira levou também à detenção de Paulo Gonçalves.
Em comunicado, o Benfica "reafirma que nunca recebeu essa ou outras informações sobre qualquer um dos processos que estejam em curso na Justiça e que envolvam a sua instituição ou qualquer outra", manifestando também "a sua estranheza e repúdio por nessa como noutras notícias, saídas nas últimas semanas em diversos órgãos de comunicação social, serem citadas de forma sistemática pretensas fontes judiciais ou fontes da Polícia Judiciária ligadas ao processo, numa assunção clara de violação do segredo de justiça".

Eis a nota na íntegra:

"A Sport Lisboa e Benfica SAD esclarece que é falsa a informação veiculada pela notícia hoje publicada pelo jornal "Expresso", sob o título com destaque de chamada de capa "Benfica foi avisado de todas as buscas".
A Sport Lisboa e Benfica SAD reafirma que nunca recebeu essa ou outras informações sobre qualquer um dos processos que estejam em curso na Justiça e que envolvam a sua instituição ou qualquer outra.

A Sport Lisboa e Benfica SAD não pode também deixar de manifestar a sua estranheza e repúdio por nessa como noutras notícias, saídas nas últimas semanas em diversos órgãos de comunicação social, serem citadas de forma sistemática pretensas fontes judiciais ou fontes da Polícia Judiciária ligadas ao processo, numa assunção clara de violação do segredo de justiça, perante a total ausência de qualquer posição por parte dos responsáveis da investigação criminal e justiça sobre estes eventuais crimes cometidos por quem, em todos os momentos e circunstâncias, deve ser o primeiro e maior garante do escrupuloso cumprimento da lei e da legalidade num Estado de Direito.

Finalmente, a Sport Lisboa e Benfica SAD expressa a sua profunda indignação pela forma leviana e soez como o jornal "Expresso" ofende o seu bom-nome e reputação com permanentes insinuações gratuitas e difamatórias, e, em conformidade, reagirá de imediato e pelos meios próprios contra os seus autores e cúmplices e exigirá que a gravidade destas condutas mereça a devida punição.

Lisboa, 10 de março de 2018"