“O bobo sorri. O povo assiste. Ninguém faz nada”. Os acordos entre Luís Filipe Vieira, José António dos Santos (o empresário conhecido por ‘rei dos frangos’) e o investidor norte-americano John Textor voltaram à ribalta nos últimos dias, depois do ex-presidente do Benfica ter comunicado à SAD que recebeu uma oferta de quase 5,9 milhões de euros pela posição de 3,28 por cento que detém.
O Benfica, que tem direito de preferência sobre os 753.615 títulos de Vieira, adiantou que faltam “informações essenciais e necessárias” sobre essa oferta de 5,9 milhões de euros. O autor da proposta não foi identificado, mas de imediato essa oferta foi associada a John Textor, que continua atrás dos 23,1 por cento da SAD do Benfica na posse de José António dos Santos.
As trocas de informações e comunicados sucedem-se. O próprio John Textor veio a público esclarecer que suspendeu o acordo com José António dos Santos, uma vez que o Benfica tem eleições marcadas para 9 de outubro, de forma a resolver democraticamente o problema levantado pela saída de Luís Filipe Vieira da presidência.
Tudo isto vai ocorrendo numa altura em que a equipa lidera isolada o campeonato e garantiu a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo ainda defrontado o Dínamo, em Kiev (0-0), para a primeira jornada do Grupo E. Face ao sucesso desportivo neste início de época, os sócios do Benfica vão passando ‘ao lado’ do debate sobre as realidades da SAD e do clube, como lamentou Jorge Mattamouros.
Sem citar nomes, Jorge Mattamouros, o associado do Benfica que se tornou conhecido ao avançar para tribunal com uma queixa contra Luís Filipe Vieira (retirada na sequência da saída do ex-presidente), mostrou estar atento ao que se passa, não escondendo um certo desânimo por não serem exigidas responsabilidades a Vieira e outros administradores da SAD e dirigentes do clube, como Rui Costa, o presidente em exercício e apontado como candidato nas eleições de 9 de outubro.
“Um gangster e a sua ex-quadrilha trocam galhardetes na praça pública. O bobo da corte não percebe bem do que se trata, mas sorri, como lhe compete. O povo assiste, impávido. Ninguém faz nada: quem pode não quer, quem quer não pode. Pão e circo tratam do resto. Assim estamos”, escreveu Jorge Mattamouros, nas redes sociais.
O Benfica tem na próxima sexta-feira uma Assembleia Geral extraordinária (AGE), na qual será discutida e apreciada uma “proposta de regulamento eleitoral para as eleições”. Isto significa que, à data, não há regulamento para as eleições marcadas para 9 de outubro.
Essa ausência de regulamento eleitoral foi criticada por João Noronha Lopes, que nas eleições de outubro de 2020 recebeu cerca de um terço de votos, quando o ex-candidato anunciou que não iria novamente a votos.
“As regras das eleições apenas vão ser conhecidas a três semanas do dia da votação. O problema não é das eleições serem cedo de mais, é das eleições serem feitas à pressa e sem que se conheçam as regras pelas quais vão decorrer. Estes sinais não sugerem uma mudança relativamente às práticas que condenámos no passado”, disse Noronha Lopes, que não se candidata devido a “fortes razões familiares e profissionais”.
A formação espanhola ‘cumpriu’ a previsão, sendo batida em casa pelo Bayern Munique, o grande favorito deste Grupo E, mas o Benfica não conseguiu os três pontos, perdendo assim a hipótese de acompanhar os alemães na liderança. Na próxima jornada, o Barcelona desloca-se à Luz (dia 29 de setembro), mas tendo apenas um ponto de atraso para as águias.
“O Benfica perdeu uma boa oportunidade de ganhar e criar alguma confusão no grupo, aproveitando que as duas equipas muito mais fortes se bateram hoje, com o Bayern a vencer o Barcelona e a assumir a liderança”, resumiu Pedro Henriques, antigo jogador dos encarnados, no comentário aos jogos de ontem para o Grupo E da Liga dos Campeões.
O empate em Kiev foi ainda mais penalizador pela forma como o Benfica controlou a partida, mostrando ser bem superior ao Dínamo, que até viria a marcar nos descontos, num lance que seria anulado pelo videoárbitro por fora de jogo: “Se não consegue vencer o adversário mais frágil do grupo acaba por complicar um bocado as contas. Salvou o empate no final, mas pelo que fez durante o jogo todo o Benfica justificava ter vencido”.
Pedro Henriques apontou o cenário que mais agradava aos encarnados: com uma vitória em Kiev, o Benfica iria receber o Barcelona tendo três pontos de vantagem, o que colocaria a pressão em cima dos espanhóis. Um empate na Luz “seria o caos para o ‘Barça’ e o Benfica entraria verdadeiramente na discussão pela qualificação”, acrescentou.
No entanto, este quadro hipotético ruiu com o empate em Kiev, que colocou o Benfica em igualdade pontual com o Dínamo e reforçou a ideia de que as águias estão ‘condenadas’ a disputar o terceiro lugar com os ucranianos, com o Barcelona a acompanhar o poderoso Bayern na passagem aos oitavos de final.
“O empate não é um mau resultado, mas pela questão da Liga Europa o Benfica precisa de fazer quatro pontos com esta equipa”, insistiu o ex-defesa encarnado, em declarações na Sport TV.
Pelas ocasiões criadas e pelo domínio exercido, o Benfica até podia ter regressado da Ucrânia com os três pontos. Ainda assim, no entender de Pedro Henriques, Rafa foi o único a ‘carregar’ a equipa para a frente, mostrando ser “o único desequilibrador do Benfica”.
“O Jorge Jesus continua a insistir muito com Everton e o Everton não desequilibra. Uma equipa que só tem um jogador que desequilibra tem muitas dificuldades na Liga dos Campeões”, alertou: “O Grimaldo de vez em quando também cria esses desequilíbrios, mas o Everton não consegue criar nada. É um desperdício de talento, porque não consegue fazer a diferença”.
Everton não foi o único a mostrar-se abaixo do esperado. Otamendi, eleito o homem do jogo, “voltou a ter aqueles solavancos, aqueles erros estranhos que tem em algumas partidas”, apontou Pedro Henriques, virando depois a agulha para Yaremchuk: “Ainda continua atrás dos avançados que estão sentados. Gosto muito do Gonçalo Ramos, o Darwin precisa que o jogo tenha determinadas caraterísticas e de Carlos Vinícius não vale a pena falar, Jorge Jesus entendeu que não servia”.
Nesta jornada de estreia na Liga dos Campeões 2021/22, o Benfica mostrou que “precisa de evoluir muito” para se bater de frente com as melhores equipas do continente. Como exemplo, o ex-defesa referiu os lances de bolas paradas: “Faz aquelas combinações todas, muito bonitas, e não cria perigo, a bola não chega à área”.
“Apesar do Jorge Jesus fazer uma leitura diferente, Bayern e Barcelona são claramente melhores do que o Benfica. Pode acontecer o Barcelona vir à Luz e perder, mas não arriscaria apostar numa derrota do Bayern. Se não ficar em terceiro tem outro desastre europeu, pode surpreender e ficar em segundo, recuperando a dimensão europeia que já não tem há alguns anos”, concluiu Pedro Henriques.
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