O Sporting não contratou aquele que é provavelmente o jogador mais cobiçado do futebol mundial... porque não quis (ou não achou interessante). Em 2018, quando Haaland tinha apenas 17 anos, foi proposto à SAD leonina pelo coordenador de scouting que tinha no futebol escandinávio. A resposta no fim de tudo foi... não.
«Indiquei o Haaland em 2018, pouco depois de ele sair do Byrne para ir para o Molde. Naquela altura o futebol norueguês não era de todo interessante. Começou a aparecer o fenómeno Odegaard, que trouxe alguma paixão aos noruegueses, mas o país ainda estava num estado de dúvida. Tinham um bom jogador, sim, mas o que apoiavam mesmo era o futebol inglês», conta Tomás Pereira.«Agora sim, já há alguma paixão, fruto destes vários jogadores que atingiram um patamar interessante no futebol internacional. O Haaland, com 17 anos, já jogava pelo plantel principal do Molde, que tinha o Ole Gunnar Solskjaer como treinador principal, e nos primeiros jogos percebeu-se logo que tinha um potencial tremendo.»
Ora nesta altura convém esclarecer que Tomás Pereira, com quem o portal Maisfutebol conversou, é esse tal coordenador de scouting na Noruega. Entrou no Sporting pela mão de Aurélio Pereira, para fazer scouting de miúdos no distrito de Setúbal, e mais tarde, quando recebeu um convite para emigrar para a Noruega, foi convidado para coordenar o scouting leonino de toda a Escandinávia.
«Eu já o conhecia do Bryne, porque treinei um clube lá de muito perto e alguns meus jogadores foram jogar para o Bryne, o que me levou a manter o contacto com o clube. Nessa altura era preciso saber o que o Haaland era capaz de fazer num contexto competitivo mais elevado, e pronto, após os primeiros jogos pelo Molde percebeu-se que podia ser algo fascinante», acrescenta.
«Imediatamente o indiquei ao Sporting, já para integrar a equipa principal, e a partir daí a bola passou para os meus superiores, que podiam ter ou não interesse no jogador. O meu chefe de então achou que podia ser um jogador interessante, mas achou que era demasiado caro. Na altura falava-se de um preço a rondar os 2,5 milhões de euros e ele considerou que era demasiado dinheiro.»
Tomás Pereira diz que ainda enviou uns whatsapps a reforçar o que tinha escrito no relatório, mas compreendeu que não valia a pena. Oito meses depois Haaland saiu para o RB Salzburgo e a partir daí a história do possante avançado norueguês já é conhecida. Golos e mais golos, a transferência para o Borussia Dortmund, mais golos, e a Europa inteira atrás dele aos 20 anos.
«Temos de perceber qual é o nosso lugar e a minha função foi sempre produzir relatórios, o mais detalhados possível, e a partir daí cabe ao meu chefe e à equipa técnica decidir o que o clube precisa. Eu limitei-me a elaborar um relatório detalhado, sublinhando que realmente este jogador é para assinar e não é hoje, nem amanhã, é para assinar ontem. Mas a direção é que decide.»
Também, em boa verdade, convém recordar que 2018 não foi o ano mais feliz para convencer o Sporting a investir o que quer que seja num miúdo desconhecido da Noruega. Foi o ano do ataque a Alcochete, sendo que este processo de Haaland começou ainda com Bruno de Carvalho e acabou quando o clube estava entregue a uma Comissão de Gestão liderada por Sousa Cintra.
Ora Tomás Pereira conta, de resto, que durante os sete anos que esteve na Noruega Erling Haaland não foi o único craque que indicou. «O Haaland já foi mais tarde, já foi em 2018. Antes disso já tinha proposto o Martin Odegaard, já tinha proposto o Kristoffer Ajer, que agora está no Celtic...»
A história de Odegaard é aliás muito curiosa.
«Vi-o pela primeira vez com 14 anos, num torneio pela seleção da Noruega. Fiz o relatório e não existiu interesse pela parte do Sporting. Sobretudo porque o atleta ainda era menor de idade, para vir para o Sporting era necessário desembolsar alguma verba, que não chegava a um milhão, mas não houve interesse», conta Tomás Pereira.
«O tempo passou, eu fui mantendo o Sporting a par e entretanto saiu no jornal que o Real Madrid e o Bayern Munique estavam interessados. Nessa altura houve um clique, porque isto funciona muito assim: se há interesse de outros clubes, a coisa acelera. Pediram-me então para tentar arranjar o contacto dos pais do jogador, eu lá consegui isso e o Sporting levou o Martin Odegaard à Academia de Alcochete, para conhecer o clube e as instalações.»
«O Real Madrid já estava na corrida e não tivemos qualquer hipótese. A única coisa que fiz na altura foi fornecer os contactos dos pais e do treinador do Odegaard, que até era português, o Vítor Gazimba. Foi interessante porque ele foi o primeiro grande talento a sair da Noruega.»
Olhando para trás, e hoje já desligado do Sporting, Tomás Pereira compreende que é difícil liderar um departamento de scouting e ter de escolher entre centenas de jogadores indicados.
«Ainda mantenho contacto com muitos dos meus colegas, porque felizmente muitos deles têm muita competência e continuam no Sporting, mas isto é muito complicado. Hoje podemos sempre dizer ‘vês, atenção, eu tentei’, mas é fácil falar. Isto é complicado», refere.
«Claro que quando nos dizem que não a um jogador em quem acreditamos muito acaba por haver alguma frustração, mas tem que passar rápido, porque sabemos que também há scouts na Suíça, Espanha, França, em toda a Europa, a indicar jogadores. Temos de perceber que acaba por ser normal, porque cada cabeça sua sentença.»
Sem mágoas pelo passado, Tomás Pereira olha para o futuro e para o que aí vem. Ele que agora coordena toda a metodologia de treino do Widzew Lodz, da Polónia.
«Tem sido uma jornada longa. Entrei no Sporting pela mão do senhor Aurélio Pereira, depois estive sete anos na Noruega, a seguir a isso estive dois anos em Portugal, na Federação, e estou agora há quase um ano na Polónia, como coordenador de metodologia de treino de todas as equipas do Widzew Lodz. É um gigante, que disputou Liga dos Campeões, foi a finais, meias-finais, até que entrou em falência. Está a reerguer-se, agora está na II Liga, queremos voltar à Liga e estamos a criar as bases para não voltarmos apenas à Liga mas sermos um clube de futuro.»
Aos 33 anos, não lhe faltam experiências e histórias para contar.
Ora nesta altura convém esclarecer que Tomás Pereira, com quem o portal Maisfutebol conversou, é esse tal coordenador de scouting na Noruega. Entrou no Sporting pela mão de Aurélio Pereira, para fazer scouting de miúdos no distrito de Setúbal, e mais tarde, quando recebeu um convite para emigrar para a Noruega, foi convidado para coordenar o scouting leonino de toda a Escandinávia.
«Eu já o conhecia do Bryne, porque treinei um clube lá de muito perto e alguns meus jogadores foram jogar para o Bryne, o que me levou a manter o contacto com o clube. Nessa altura era preciso saber o que o Haaland era capaz de fazer num contexto competitivo mais elevado, e pronto, após os primeiros jogos pelo Molde percebeu-se que podia ser algo fascinante», acrescenta.
«Imediatamente o indiquei ao Sporting, já para integrar a equipa principal, e a partir daí a bola passou para os meus superiores, que podiam ter ou não interesse no jogador. O meu chefe de então achou que podia ser um jogador interessante, mas achou que era demasiado caro. Na altura falava-se de um preço a rondar os 2,5 milhões de euros e ele considerou que era demasiado dinheiro.»
Tomás Pereira diz que ainda enviou uns whatsapps a reforçar o que tinha escrito no relatório, mas compreendeu que não valia a pena. Oito meses depois Haaland saiu para o RB Salzburgo e a partir daí a história do possante avançado norueguês já é conhecida. Golos e mais golos, a transferência para o Borussia Dortmund, mais golos, e a Europa inteira atrás dele aos 20 anos.
«Temos de perceber qual é o nosso lugar e a minha função foi sempre produzir relatórios, o mais detalhados possível, e a partir daí cabe ao meu chefe e à equipa técnica decidir o que o clube precisa. Eu limitei-me a elaborar um relatório detalhado, sublinhando que realmente este jogador é para assinar e não é hoje, nem amanhã, é para assinar ontem. Mas a direção é que decide.»
Também, em boa verdade, convém recordar que 2018 não foi o ano mais feliz para convencer o Sporting a investir o que quer que seja num miúdo desconhecido da Noruega. Foi o ano do ataque a Alcochete, sendo que este processo de Haaland começou ainda com Bruno de Carvalho e acabou quando o clube estava entregue a uma Comissão de Gestão liderada por Sousa Cintra.
Ora Tomás Pereira conta, de resto, que durante os sete anos que esteve na Noruega Erling Haaland não foi o único craque que indicou. «O Haaland já foi mais tarde, já foi em 2018. Antes disso já tinha proposto o Martin Odegaard, já tinha proposto o Kristoffer Ajer, que agora está no Celtic...»
A história de Odegaard é aliás muito curiosa.
«Vi-o pela primeira vez com 14 anos, num torneio pela seleção da Noruega. Fiz o relatório e não existiu interesse pela parte do Sporting. Sobretudo porque o atleta ainda era menor de idade, para vir para o Sporting era necessário desembolsar alguma verba, que não chegava a um milhão, mas não houve interesse», conta Tomás Pereira.
«O tempo passou, eu fui mantendo o Sporting a par e entretanto saiu no jornal que o Real Madrid e o Bayern Munique estavam interessados. Nessa altura houve um clique, porque isto funciona muito assim: se há interesse de outros clubes, a coisa acelera. Pediram-me então para tentar arranjar o contacto dos pais do jogador, eu lá consegui isso e o Sporting levou o Martin Odegaard à Academia de Alcochete, para conhecer o clube e as instalações.»
«O Real Madrid já estava na corrida e não tivemos qualquer hipótese. A única coisa que fiz na altura foi fornecer os contactos dos pais e do treinador do Odegaard, que até era português, o Vítor Gazimba. Foi interessante porque ele foi o primeiro grande talento a sair da Noruega.»
Olhando para trás, e hoje já desligado do Sporting, Tomás Pereira compreende que é difícil liderar um departamento de scouting e ter de escolher entre centenas de jogadores indicados.
«Ainda mantenho contacto com muitos dos meus colegas, porque felizmente muitos deles têm muita competência e continuam no Sporting, mas isto é muito complicado. Hoje podemos sempre dizer ‘vês, atenção, eu tentei’, mas é fácil falar. Isto é complicado», refere.
«Claro que quando nos dizem que não a um jogador em quem acreditamos muito acaba por haver alguma frustração, mas tem que passar rápido, porque sabemos que também há scouts na Suíça, Espanha, França, em toda a Europa, a indicar jogadores. Temos de perceber que acaba por ser normal, porque cada cabeça sua sentença.»
Sem mágoas pelo passado, Tomás Pereira olha para o futuro e para o que aí vem. Ele que agora coordena toda a metodologia de treino do Widzew Lodz, da Polónia.
«Tem sido uma jornada longa. Entrei no Sporting pela mão do senhor Aurélio Pereira, depois estive sete anos na Noruega, a seguir a isso estive dois anos em Portugal, na Federação, e estou agora há quase um ano na Polónia, como coordenador de metodologia de treino de todas as equipas do Widzew Lodz. É um gigante, que disputou Liga dos Campeões, foi a finais, meias-finais, até que entrou em falência. Está a reerguer-se, agora está na II Liga, queremos voltar à Liga e estamos a criar as bases para não voltarmos apenas à Liga mas sermos um clube de futuro.»
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