Maior acionista do Benfica pede aposta na formação; "Adeptos do Benfica dão arrepios. Com eles não perdíamos tantos pontos", diz Mantorras

Pedro Mantorras viu a sua carreira travada por lesões mas enquanto jogou, mesmo nos embates em que a condição física já não era melhor, a 'alegria do povo', como era carinhosamente conhecido entre os adeptos do Benfica, galvanizava a equipa, catapultava os colegas e as bancadas animavam-se, até porque, não raras vezes, Mantorras era a 'arma secreta' que ajudou a desbloquear muitos jogos da turma benfiquista. Agora que passavam 20 anos desde que trocou o Alverca pela Luz, o angolano admite que o Benfica nesta época está onde está por não ter a 'nação benfiquista' do seu lado nas bancadas. Caso contrário, Mantorras não tem dúvidas que há pontos que ficaram pelo caminho que, em outra circunstância, não tinham ficado.

"O Benfica perdeu jogos nesta época que não perdia se tivesse os adeptos nas bancadas. Não perdia", assegura Pedro Mantorras, antigo camisola 9 do Benfica e uma das grandes figuras do início deste século no emblema da Luz. Para o ex-avançado angolano, o Benfica de Jorge Jesus nesta temporada "até podia estar desfalcado com jogadores a passar aquela coisa da covid-19, mas com os adeptos" as coisas seriam bem diferentes. "Não perdíamos. Eles puxam por nós, dão aquela força extra que é preciso. Tu acordas, despertas. A massa associativa do Benfica dá arrepios, tu levantas e pensas 'estou a dormir, tenho de correr mais'. Se estou a correr 60 vou correr 100 agora."

Em declarações ao Record, num excerto já conhecido de uma longa entrevista que irá ser divulgada no domingo, Pedro Mantorras explica ainda que "a massa associativa do Benfica é muito importante em todos os aspetos." "Os sócios são importantes. Há jogos em que a gente não jogava nada mas os sócios puxavam e a gente ficava transformada", recorda Pedro Mantorras.

Maior acionista do Benfica pede aposta na formação. Maior acionista individual da SAD do Benfica, com uma participação que, direta e indiretamente, atinge os 14,25 por cento, José António dos Santos, presidente do Grupo Valouro – com esta empresa, e entre os seus familiares, a participação atinge os 16,35% –, defende a aposta na formação, sendo que Jorge Jesus tem sido por vezes visado por não dar muito espaço a jovens da “cantera”. Seja no Benfica ou em qualquer clube nacional, o empresário vê esta como uma solução imprescindível.

“Digo sempre que nunca se deve deixar a formação. É o futuro de qualquer clube em Portugal, se não tiver formação não há clube. Seja o Sporting, FC Porto, Benfica, Braga, seja qual for o clube. Sem formação, os clubes não têm hipótese de sobrevivência”, disse, em entrevista à Jornal Económico TV.

“Os clubes têm de ter uma receita extra. Todos os anos têm de vender alguns miúdos para se manterem. Temos pouca indústria capaz de suportar os clubes de futebol. Esse é um dos grandes problemas de Portugal”, defendeu, vendo Portugal com “uma escola de jogadores” e apontando o “apetite dos miúdos para serem craques como o Cristiano Ronaldo”. José António dos Santos defende mesmo que “o próprio país, pela própria Secretaria de Estado do Desporto, deveria apoiar muito este caso”, até a “clubes de província”.

Abordando a sua participação na SAD do Benfica, explicou: “Comprei as ações quando estavam muito baixas. Fi-lo por duas razões: por ser benfiquista, de coração, mas também como investimento. As ações estavam demasiadamente baixas. Uma ação de 5 euros a ser comprada por 1 euro e picos… Foi uma das grandes razões.”

Como adepto, ainda sonha com o título. “O Benfica não tem estado muito bem... agora parece que já está. Ainda podemos ser campeões [risos]. Enquanto a matemática não falhar”, disse, falando de um “campeonato muito difícil”. “Vai ser muito difícil fazer uma previsão dos jogos porque vão sair erradas às vezes. Será um dos últimos campeonatos que mais apertado será”, afirma, analisando a época das águias: “Começaram muito bem. Entraram em queda com a derrota com o Boavista por 3-0. Foi realmente o primeiro sintoma da queda. Depois tivemos o grande azar de, entre jogadores e staff, 18, 19 apanharem covid-19. A partir dali houve um desmoronamento da equipa. Perdia ou empatava com quase todos os clubes. Felizmente isso passou e o Benfica é a equipa que agora melhor joga futebol em Portugal. Vamos ver. A bola é redonda e às vezes não ganha o melhor.”