“ANTF? Aquilo é uma corja. Um bando de frustrados"; “Sporting cumpriu normas. Não há fraude”, defende especialista

A acusação de fraude que recai sobre o treinador do Sporting, Rúben Amorim, deixa o antigo futebolista Fernando Mendes indignado com a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), que está na origem do processo aberto pela Comissão de Instrutores da Liga. 

Aquela associação fez uma participação contra Amorim, que poderá, de acordo com os regulamentos, ficar suspenso até seis anos, caso se comprove culpa.
“Estranho o timing desta polémica”, começa por dizer Fernando Mendes, aludindo ao facto de o Sporting seguir em primeiro lugar, bem como à recente renovação de contrato de Rúben Amorim, que prorrogou o vínculo com o clube de Alvalade por mais uma temporada. Para Fernando Mendes, são estes episódios que transformam o futebol português na “chacota do futebol europeu. 
“Temos jogadores fantástico no futebol europeu. Temos treinadores fantásticos no estrangeiro. Mas ninguém nos leva a sério. Ninguém. Somos a chacota do futebol europeu. É por causa deste tipo de situações”, realça o antigo futebolista, na CMTV, antes de desferir um duro ataque à ANTF. 
“Aquilo é uma corja que está ali. A intenção deles é dar tachos a treinadores que não conseguem entrar nos clubes. Infelizmente, não conseguem entrar nos clubes porque estão a aparecer treinadores novos com qualidade e eles não conseguem ter trabalho. A solução é bloquear estes miúdos que estão a dar cartas”, acusa. 
O antigo defesa diz que na ANTF estão treinadores “que nunca chegaram a lado nenhum”. E Fernando Mendes fala do próprio presidente da associação, José Pereira. “Basta ver o presidente! Quem é que o homem treinou? Há 20 anos que nunca treinou ninguém”, salienta. 
“Estes treinadores, que nunca foram nada em lado nenhum, são um bando de frustrados que não treinam ninguém. Há lá três ou quatro por quem tenho muito respeito. Mas os outros são um bando de frustrados”, dispara, que não compreende que se trave o sucesso de técnicos, outrora futebolistas, que deixaram uma marca no futebol luso.  
“Estão a bloquear o trabalho a jovens treinadores competentes, ex-jogadores que foram internacionais, que têm um passado fantástico no futebol português... Para quê? Qual é a intenção deles?”, acrescenta. 
Fernando Mendes enumera uma série de treinadores que estiveram na mesma situação de Rúben Amorim: a treinar no principal escalão sem concluir o nível IV. 
“O SC Braga tinha o Rúben Amorim. O Estoril tinha o Marco Silva. O Rio Ave teve o Nuno Espírito Santo. No Paços de Ferreira, esteve o Paulo Fonseca. Na Académica, o Pedro Emanuel. No Olhanense, Sérgio Conceição... Já houve também o Sandro Mendes, Ivo Vieira, Silas, Petit, o Pepa, João Henriques, Sérgio Vieira. Uma catrefada deles!”, exclama, indignado. 
Para o ex-defesa, este processo sobre Rúben Amorim resulta, por outro lado, pelo facto de o Sporting e o próprio treinador darem cartas e provocarem incómodo. “Só vejo uma diferença: é o Sporting estar em primeiro. É uma espinha que eles têm na garganta. Por isso é que eu digo: Sporting candidato ao título? Calma... Virão muitas outras coisas destas”, antecipa. 
Fernando Mendes entende que o futebol português está, com esta acusação a Amorim, a reagir ao facto de “o Sporting estar na liderança e o SC Braga estar em segundo”. A classificação da I Liga, neste momento, “incomoda muita gente”. 
“Com tantos processos, qualquer dia só falta acusar o Jubas de não ter as vacinas em dia”, ironiza, referindo-se à mascote do Sporting”, ironiza, perspetivando que outros surjam outros casos. “Vão aparecer mais coisas. Eu já passei por isto”, conclui.

“Sporting cumpriu normas. Não há fraude”. O advogado Sampaio e Nora, especialista em direito desportivo, não encontra qualquer fraude no caso da inscrição de Rúben Amorim, treinador que alvo de uma acusação, pela Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, após participação da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF). 
“O artigo 81 do Regulamento de Competições é muito claro: obriga os clubes participantes na Liga NOS, que é o caso do Sporting, a tenham de ter um treinador principal com a UEFA Pro, que é o grau IV, sendo que o adjunto terá de ter grau II. Essa é a obrigatoriedade de inscrição. Depois, há uma norma, na qual eu participei, que prevê uma extensão do treinador principal, que poderá ser inscrito se tiver o grau III e estiver a participar no grau IV”, enquadra o causídico, em declarações à SportTV. 
Sampaio e Nora sustenta que, confrontando os regulamentos com a informação pública sobre o caso de Rúben Amorim, não existe qualquer fraude.  
“Quanto a mim, pelo que tenho lido e pelo que entendo, o Sporting cumpriu integralmente estas normas, porque sempre teve inscrito um treinador principal. E o treinador Rúben Amorim – e estou a falar de cor, pelo que li na comunicação social – estaria inscrito como adjunto. Quanto a mim aqui não há fraude. A entidade empregadora, o Sporting, mantém inscrito um treinador principal e Rúben Amorim estava inscrito como adjunto”, refere o especialista. 
O advogado manifesta surpresa pelo facto de a acusação representar uma mudança de paradigma, relativamente a outros casos semelhantes.  
“O que me surpreende é, de facto, esta acusação. Tenho muita curiosidade para ver esta acusação, para perceber o que está aqui em causa. Agora, à partida, isto significaria (e os órgãos jurisdicionais são livres de o fazer) é uma mudança de entendimento, relativamente ao que tem sido feito até ao momento”, refere também Sampaio e Nora. 
Sampaio e Nora também não compreende o facto de a acusação surgir depois de ser tornado público que o técnico já completou o nível IV. E refere que, a haver uma condenação, esse facto terá de servir como atenuante. 
“A haver uma irregularidade – que à primeira vista não me parece que haja – essa irregularidade estaria sanada, porque é público que Rúben Amorim já concluiu o nível IV e está inscrito como treinador principal, pelo que sei da comunicação social”, diz. 
Convidado a fazer uma antecipação do desfecho deste caso, Sampaio e Nora não acredita num castigo a Rúben Amorim: “Não gosto muito de entrar nessa onda da futurologia, ainda que os juristas sejam confrontados com essa onda da futurologia. Mas vejo [o castigo a Rúben Amorim] com muita dificuldade”. 
Segundo entende a ANTF, que apresentou uma participação em março de 2020, há fraude na inscrição de Amorim, num caso que, segundo anunciou hoje o Sporting, resultou na “acusação contra a Sporting SAD e o seu treinador Rúben Amorim”, que poderá ser “condenado a uma sanção de um a seis anos de suspensão de atividade”, de acordo com o clube. 
A ANTF não quer fazer comentários ao comunicado do Sporting, no qual os leões falam de "um dos casos mais lamentáveis e surreais do futebol português".