Rui Pinto terá mais dados sobre o Benfica para entregar à PJ. FC Porto também poderá ser visado; "Sim, fui agredido, mas não gritei 'ó boi'"

O treinador Pedro Ribeiro reiterou ter sido "agredido" no túnel do Jamor, ao intervalo do jogo entre Belenenses SAD e FC Porto, e assumiu sentir-se "defraudado" por não ter sido "apurado o que efetivamente aconteceu".

Em entrevista ao jornal Record, o então treinador do Belenenses SAD insistiu que a agressão foi real, embora na confusão não tenha sido capaz de identificar o autor da mesma.

"Sim, fui agredido no intervalo do jogo com o FC Porto quando me dirigia aos balneários", garantiu.

O principal suspeito foi o técnico portista, Sérgio Conceição, que sempre desmentiu a agressão, tal como o FC Porto.

O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol abriu um processo de inquérito ao incidente, arquivado devido à inexistência de "indícios suficientes" sobre o autor da agressão.

Essa falha em apurar "o que efetivamente aconteceu" deixou Pedro Ribeiro "defraudado".

O treinador frisou ainda não ter sido ele a "a gritar 'ó boi', expressão audível no registo de videovigilância do estádio, e explicou porque não conseguiu identificar quem o agrediu.

"Em relação a este assunto, tenho duas ou três considerações para fazer. A primeira é que este tema é passado. A dado momento desta época desportiva foi demasiadamente escrutinado. A segunda é que, quanto a este tema, decorreu um processo disciplinar. As conclusões são públicas e podem ser consultadas. A terceira é esclarecer uma famosa expressão, a do ‘ó boi’, que nunca, em momento algum, foi dita por mim. Inclusivamente, através dos meus advogados, requisitei à SIC que se retratasse dessa errada interpretação, algo que não aconteceu. Em relação a este assunto, não considerei durante todo o processo de inquérito, nem considero agora, que fosse justo da minha parte estar, na imprensa, a reportar-me ao mesmo quando existem instâncias próprias para o fazer. Foi isso que eu fiz. Entendo a pergunta, mas não tenho mais nada a referir sobre isso", disse.

"Não é por medo que não digo. Sou treinador de futebol. De câmaras, de videovigilância, não percebo nada", justificou-se.

O incidente levou Pedro Ribeiro a apresentar a demissão, por não se ter "sentido protegido" pelo Belenenses SAD em "algumas coisas que aconteceram".

O incidente ocorreu em dezembro de 2019, no jogo para a 13.ª jornada da I Liga, com o Conselho de Disciplina a arquivar o caso em fevereiro de 2020.

Rui Pinto ajuda a PJ. As informações contidas no material informático de Rui Pinto podem ajudar a Polícia Judiciária (PJ) na condução de várias investigações em curso. O acordo de colaboração, firmado esta semana entre o pirata e as autoridades, e que lhe permitiu sair da cadeia, prevê a cedência de informação que diz diretamente respeito a investigações já em curso. A corrupção e fraude fiscal no mundo do futebol, mas também dados sobre eventuais crimes perpetrados por Isabel dos Santos em Portugal, no chamado caso Luanda Leaks, são dois dossiês nos quais Rui Pinto se comprometeu ceder informação ainda não tornada pública.

É no caso dos e-mails do Benfica – no qual o Ministério Público suspeita de um plano para controlar e dominar o futebol português – que Rui Pinto pode vir a dar contributo decisivo numa investigação ainda sem luz ao fundo do túnel. Muita informação sobre este caso veio a público, através do Porto Canal e FC Porto, e do blog Mercado de Benfica, que também seria gerido por Rui Pinto.

Mas haverá ainda mais dados sobre o clube da Luz que estavam guardados nos discos externos apreendidos em Budapeste, aquando da detenção de Pinto, no início do ano passado, escreve o JN. Essas informações vão agora ser transmitidas à PJ, a quem o pirata aceitou dar os códigos de desencriptação de uma dezena de discos externos.

O pirata também terá aceitado disponibilizar informações sobre eventuais ilegalidades no FC Porto. Já quando tinha sido detido na Hungria, Rui Pinto revelou: “Entristecem-me algumas coisas que soube sobre o FC Porto. Parte delas já são públicas. Se mais vão ser reveladas? Há essa possibilidade”, afirmou aos jornalistas no Tribunal de Budapeste, onde viria a ser ditada a sua extradição para Portugal.

Também dado como certo no acordo de colaboração está a cedência de toda a informação que Rui Pinto detém sobre Isabel dos Santos. O alegado esquema de desvio de 115 milhões de dólares da petrolífera estatal Sonangol (de que foi presidente) para uma conta no Dubai pode configurar crime apenas em Angola. Mas o esvaziamento de todo o saldo da empresa numa conta do EuroBic em Lisboa (do qual é a principal acionista) no dia seguinte à sua demissão poderá configurar um ilícito em Portugal. As autoridades portuguesas também querem averiguar se poderão ter sido cometidos outros crimes, como branqueamento de capitais.

Além destes dois casos, o material de Rui Pinto também deve conduzir à abertura de novas investigações.