Objectivo de BdC no 'ataque' era forçar...jogadores a sair; Podem chegar jogadores de Madrid para o Sporting no negócio...Gelson

O Atlético Madrid não vai abandonar as negociações com o Sporting por Gelson Martins, em consequência da detenção de Bruno de Carvalho, sobre quem recaem suspeitas de envolvimento no ataque à Academia, facto de que resultou o pedido de rescisão do internacional português.

Apesar de a nova situação do antigo presidente fragilizar, objetivamente, o clube de Alvalade, em termos negociais, dando força à justa causa dos jogadores, o jornal Record escreve que não terá impacto nos contactos que já foram retomados e que vão prosseguir, no sentido de ser alcançado um acordo que retire o caso da barra dos tribunais. Dito de outra forma, a detenção de BdC nada altera, na medida em que, tanto o Sporting como o Atlético Madrid já sabiam, quando reataram as conversas, que havia essa possibilidade, ou seja, que era expectável que o ex-líder fosse implicado ou tivesse de responder perante a Justiça.

Frederico Varandas esteve em Madrid última sexta-feira, acompanhado por Hugo Viana, e reuniu-se com Miguel Ángel Gil Marín, diretor executivo do clube espanhol, na presença de Jorge Mendes. A intervenção do empresário neste processo é decisiva, aliás, à imagem do que aconteceu com Rui Patrício. Mendes mantém excelentes relações com Gil Marín e, mais, foi ele quem, no verão, apresentou a Sousa Cintra a proposta de 22 milhões de euros, mais 10 M€ em variáveis, que o antigo presidente da SAD recusou.

Sporting e Atlético Madrid estão a falar de novo em números da mesma ordem e, segundo o diário apurou, existe, também, a possibilidade de serem envolvidos jogadores na operação.

Esse cenário já foi colocado no defeso, então com Luciano Vietto e André Moreira na calha, eles que entretanto deram rumos diferentes às respetivas carreiras. A hipótese volta a estar de pé e reentrou nas negociações. Marcel Keizer, o novo técnico do Sporting, terá uma palavra importante a dizer neste particular. Em qualquer dos casos, o Atlético Madrid pagará uma compensação monetária por Gelson Martins.

Há um outro lado na história da invasão à Academia, ocorrida a 15 de maio passado. O jornal O Jogo escreve que a entrada de elementos ligados à Juventude Leonina (Juve Leo) em Alcochete, que desencadeou agressões ao plantel principal e staff técnico, conduzindo à prisão de 40 pessoas – processo de investigação que culminou com as detenções do presidente destituído Bruno de Carvalho e o líder da citada claque, Nuno Mendes, vulgo Mustafá –, assentava numa estratégia do ex-líder do Conselho Diretivo e da SAD, o qual instrumentalizou a claque para tornar o clima tóxico e assim forçar transações de jogadores.

Temendo o risco de crise financeira após um fortíssimo investimento sem resultados à altura, a administração liderada por Bruno de Carvalho necessitava de operar a venda de três jogadores. Com a relação entre presidente e plantel cada vez mais distante e crispada como foi do conhecimento público à altura, Bruno de Carvalho – agora indiciado pela prática de 56 crimes – optou por gerar um clima de intimidação insuportável que conduzisse ao desejo de jogadores com mercado abandonarem o clube a todo o custo, retirando-lhe o ónus de vendedor aos olhos de sócios e adeptos. Contudo, descontrolou-se o aperto a jogadores, que a justiça acredita ter sido instigado pelo homem que liderou o Sporting entre 2013 e 2018, espoletando um caso que manchou como nunca o emblema de Alvalade, atingindo proporções internacionais e conduzindo à rescisão unilateral de contrato de nove atletas.

Dada a proximidade entre a presidência do clube e a liderança da Juve Leo, o diário escreve que intensificaram-se os contactos entre Bruno de Carvalho e a claque. Com os títulos da temporada passada a fugirem (a Taça da Liga nada disfarçou) e o clima perante a equipa apodrecido a partir da derrota em casa do Atlético de Madrid, Bruno de Carvalho reuniu-se com o mais antigo grupo organizado de adeptos em Portugal nas instalações deste, onde terá viabilizado, acredita o Ministério Público, o ataque à Academia, verificado mais de um mês depois, após altercação entre jogadores e Fernando Mendes, ex-líder da claque, na Madeira.

Bruno de Carvalho tentou deste modo aproveitar o ambiente incandescente para retirar benefícios no mercado, mas a espiral de violência que marcou o ataque à Academia entrou na esfera da justiça, que hoje vai ouvir Bruno de Carvalho e Mustafá.