Terminou o castigo a Wendel; "JJ não voltou por um fio". Sousa Cintra abre o livro: O treinador que esteve perto de assumir o Sporting antes de Peseiro. As indecisões de Peseiro e o avançado que esteve quase certo. A 'ameaça' de ataque do Benfica. A gordura de Viviano. Porque não regressaram Rafael Leão e Podence. Ainda o "perdido" Gelson Martins, Rúben Ribeiro e Patrício

Hoje é homenageado em Sintra e na sexta-feira cumpre 74 anos. Sem filtros nem subterfúgios, o ex-presidente da SAD sportinguista no mandato da Comissão de Gestão contou ao jornal Record como trabalhou ao longo de 3 meses e como deu a volta a um leão que caía “a pique”. Falou de todos os temas.

JJ. "Sim, falei com ele. Ao Jesus corre-lhe o sangue do Sporting nas veias e fez um excelente trabalho no clube.
Tinha contrato assinado para ir lá para os árabes que o obrigava a ficar lá pelo menos seis meses. Se quisesse sair, tinha de pagar uma indemnização. Essa situação complicou a questão. No entanto, quando ele lá chegou não gostou muito daquilo, ficou atrapalhado [risos] e sentiu vontade de voltar. Houve um momento em que isso esteve para acontecer, mas eles tinham o passaporte dele e as coisas ficaram por ali. Ainda falei com o Torres Pereira porque tem um irmão embaixador e ponderámos arranjar-lhe um passaporte para ele sair de lá. Houve essas conversas. Não veio por um fio"

O treinador escolhido. "Depois de Jesus avançou para José Peseiro? Não, não foi logo. Tinha de ter um plano B e pensei num treinador estrangeiro, campeão e disponível. Paul Le Guen? Exatamente. O Le Guen foi encantador. Fiquei muito impressionado com ele. Meti-me no avião, fui ter com o Lucídio Ribeiro e jantámos os três. Fiquei impressionado com esse francês. Teve um comportamento exemplar. Foi um senhor. Discutimos os valores, acertei tudo com ele de acordo com as nossas possibilidades. Até fiquei admirado com a facilidade com que ele aceitou as condições. Expliquei-lhe então a situação transitória em que estávamos, o problema das eleições e da vontade que ainda tínhamos de contratar um treinador português. E disse-lhe que se não encontrássemos uma solução, ele seria o treinador do Sporting. Coloquei as questões sobre a mesa e o homem aceitou! Eu fui muito correto com ele, como é obrigação de qualquer presidente, e ele ainda mais me surpreendeu, pois disse-me que se o futuro presidente não o quisesse ele sairia sem cobrar nem mais um dia de trabalho. Incrível. Um tipo a sério. Melhor não podia ser. Eu regressei satisfeito, mas entendia que a melhor solução era mesmo um treinador português. E há muitos e bons. Fiz a leitura dos que estavam disponíveis e escolhi o Peseiro. Peguei no telefone e fechei o contrato. Foi um acordo bastante simpático por um ano e mais um de opção. Não podia trazer encargos para a futura direção"

'Ataque' do Benfica aos jogadores. "Bom, eu sou amigo do Luís Filipe Vieira. Sempre fui. Nem ele sonhava ir para presidente do Benfica [risos]. Aliás, como sou amigo do Pinto da Costa e dos presidentes dos clubes todos em Portugal. Tenho boas relações com todos. O Luís Filipe Vieira evidentemente queria lá os jogadores que queria, mas eu disse-lhe: ‘Epá, calma aí!’ Não vale a pena estar a contar histórias, porque é desagradável e deselegante estar a falar de coisas que temos em privado com as pessoas. Agora, eu tinha a certeza – a certeza! – de que ele não me ia lá buscar jogador nenhum. Nem eu a ele. [Ele afirmou numa assembleia geral do Benfica que ia…] … que ia buscar, pois disse. Mas foi antes de eu chegar. Depois não aconteceram mais essas conversas. Quando as pessoas se respeitam… É verdade que havia aquela história do Paulo Sousa, mas faz parte do passado e são coisas bem distintas. Aliás, quem provocou não foi o Sporting. As pessoas já não sabem, mas quando eu cheguei a presidente do Sporting o Benfica tinha vindo buscar o Figo. Ele e o Peixe tinham sete meses de ordenados em atraso. Perguntei pelo Figo, dissera-me que era jogador do Benfica e que estava de férias no Algarve. Mandei-o logo buscar! [risos] Ele assinou outra vez com o Sporting e depois o Benfica pôs o Sporting em tribunal"

Plantel para Peseiro. "Dei-lhe tudo o que pediu. Ele fazia a leitura dos jogadores. Mas perdia muito tempo a analisar. Via, via, serve, não serve, houve ali alguma falta de decisão. Tenho enorme respeito pelo treinador, mas na escolha dos jogadores houve muita indecisão. Sim, depois não, depois sim, não, talvez. [Ele terá visto 300 jogadores] Pois, está a ver… Foram muitos, se calhar de mais. Poderíamos ter outro plantel, apesar de este ser bom"

O tal avançado. "Faltou o avançado. Tivemos praticamente contratado aquele que jogou com o Benfica. Até lhes marcou um golo. Prijovic, do PAOK? Sim. Tivemos as negociações muito adiantadas. Esteve para vir. O Peseiro disse primeiro que sim, depois não, e no fim até disse que ele nem sequer iria para o banco"

Rafael Leão. "Ele esteve aqui, onde estamos a falar [no escritório das suas empresas]. Levámos muito tempo para assinar o contrato, o trabalho dos advogados… Depois o pai veio numa loucura com outras pessoas, o empresário desapareceu. Foi uma tristeza, foi horrível. Não houve coerência, respeito, nada. Ele queria ficar no Sporting. Mas o pai e o empresário levaram-no àquele destino"

Podence. "Estivemos reunidos até às 2h ou 3h da manhã para fechar esse negócio. Mas a exigência de ordenado foi de tal ordem que era impossível ficar com ele. Disse-o ao empresário, ao Jorge Mendes. Estivemos lá com ele, com a mãe, todos, até tarde, mas não chegamos a entendimento. Ia ganhar uma ‘pipa’… Então e os outros jogadores todos? Ia criar ali um problema. Foi essa a razão."

Diaby. "O problema do Diaby é que tem estado mais tempo a jogar na seleção do que no Sporting. Mas o [José] Peseiro está encantado. Disse-me maravilhas dele"

Viviano. "Não apareceu ninguém que o quisesse. Se ele pudesse, também tinha saído. Agora está a melhorar. Pode ser que ainda dê um grande contributo. Se calhar pensava que vinha passar férias. Estava gordo e não se dedicava. O treinador não gostou. Tive de arranjar outro guarda-redes"

Nani. "O Nani é um grande jogador, esteve nos melhores clubes do Mundo. Tem garra e dá tudo em campo. Mas líder é líder. No dia em que os jogadores não respeitem o treinador, algo está errado. Têm de respeitar. O treinador tem de ter autoridade para comandar as operações no plantel. Se sugeri que Nani fosse capitão? Não. O treinador é que tem de escolher o capitão. Era deselegante meter-me nesse assunto. O que posso dizer é que o Nani vive o Sporting de alma e coração. É um sportinguista de raça, quer ser campeão. E eu continuo convencido de que o Sporting vai ser campeão. Portimão foi um acidente de percurso"

Rúben Ribeiro. "Ele foi lá a Alvalade com o advogado e eu recebi-os. Ele é que pediu para sair e eu não podia deixar que fosse à borla. Então andava eu a reclamar as cláusulas dos outros jogadores que rescindiram e ia agora abrir uma exceção? Era o que faltava. Não lhe desejo mal nenhum e disse-o a ele, mas o contexto era complicado. Se fez proposta? Sim, mas foi de meio milhão ou de um milhão de euros. Como é que eu podia deixá-lo sair por essa verba quando ele tinha uma cláusula de 60 milhões? Isso só prejudicava as outras ações em curso"

Por Patrício. "Ele já estava lá [no Wolverhampton]. Noutras circunstâncias ter-lhe-ia pedido para continuar, porque ele foi criado no Sporting, tem amor ao clube. Ainda falei com o Jorge Mendes, mas entendi que o problema só deveria ser resolvido pela nova direção"

Gelson Martins. "O Gelson estava completamente perdido! Não foi por valores, nem sequer se chegou aí. Ele estava com a cabeça no Atlético Madrid e nada o demovia. Estava perdido por ir embora, incrível! Estive com eles em Alvalade. Ofereceram-me 15, 17, 20, 22 [milhões de euros]. Eu disse-lhes: ‘O Gelson tem uma cláusula de 100 milhões e vocês sabem perfeitamente que a razão está do lado do Sporting; pagam metade .’ Se queria 50 milhões? Era metade. Depois passei para 45 milhões e disseram-nos que ainda podíamos ver um jogador. Mas não ia hipotecar o futuro do Sporting para fazer o que eles queriam. Ainda fecharia com eles por 40 milhões, ‘cash’, para se resolver o problema. Mas não houve entendimento. Agora ouço dizer que estão a querer baixar valores. Se é verdade, é lamentável. O Sporting vai ganhar as ações todas"

Wendel está de regresso aos trabalhos da equipa principal do Sporting, isto depois de ter sofrido um castigo interno devido à atitude displicente que vinha a revelar, pontuada com um atraso no regresso do Brasil, que o levou a ser despromovido à equipa de sub-23. O médio brasileiro de 21 anos esteve durante alguns dias às ordens de José Lima e agora recebeu luz verde para reintegrar os treinos da equipa A.
Apesar da recente atitude do ex-Fluminense não ter caído bem junto da estrutura leonina, a SAD não planeia abrir mão daquele que veem como um ativo com muito potencial, pelo que a saída em janeiro não é sequer um cenário em aberto. Para além da concorrência no meio-campo, Wendel tem sofrido alguns problemas físicos que o têm afastado das contas de José Peseiro. Até à data soma apenas 19 minutos (suplente utilizado contra o Marítimo, na Allianz Cup).