Sporting desconfia de uma Liga financiada por FC Porto e Benfica

As reconhecidas dificuldades financeiras da Liga, aliadas à frágil condição económica de quase todos os emblemas que fazem parte da instituição, tornam muito real a possibilidade de Benfica e FC Porto chamarem a si parte significativa das despesas correntes da organização das provas profissionais. A hipótese, anunciada em Conselho de Presidentes, foi comunicada aos jornalistas por Luís Duque a 14 do corrente mês, no Porto. Contudo, desde então, o novo líder da Liga procurou que as verbas necessárias a curto prazo pudessem vir de outros emblemas e não apenas dos dois rivais, de modo a evitar que alguns clubes pudessem sentir-se melindrados com o processo. Nesse sentido, aliás, enviou uma missiva a todos os filiados a indagar da possibilidade de cada um poder contribuir com parte da soma (1,5 milhões de euros) considerada essencial para fazer frente às despesas até ao final do ano.

Acontece que, como esperado, a resposta não foi positiva. Assim, para além de a Liga já ter contraído um empréstimo bancário (que serviu para resolver situações de tesouraria mais urgentes, entre as quais o pagamento das verbas em atraso aos árbitros), é cada vez mais provável que dragões e águias tenham de injetar algum dinheiro, de modo a evitar que o normal desenrolar das competições não seja colocado em causa.

O jornal Record chegou à fala com responsáveis de vários clubes, e se é certo que a maioria entende que urge fazer qualquer coisa e que a disponibilidade comunicada pelos dois rivais é de enaltecer, também se deparou com muitas vozes preocupadas. A coberto do anonimato – para evitar serem acusados de desestabilização, por os seus receios (de momento) não passarem disso mesmo, por respeito a quem está disposto a “chegar-se à frente” e também por temerem que os seus clubes possam ser prejudicados –, sempre foram dizendo que a situação, a confirmar-se, está longe de ser a ideal. Mais que não seja porque a Liga “precisa de maior transparência” e este passo pode “funcionar ao contrário”, por ser “estranho”. Ainda assim, quase todos aceitam que, com celeridade, talvez este seja o único caminho viável. A velha expressão popular “mal menor” chegou mesmo a ser utilizada. Enão apenas uma vez...

Entre os vários contactos estabelecidos, um tem maior impacto, por se tratar do outro grande do futebol português e, já agora, devido ao facto de Luís Duque ser reconhecidamente sportinguista, apesar de considerado “persona non grata” pelos atuais dirigentes do clube que o querem ver... na barra do tribunal. Os leões, como facilmente se poderia imaginar, são quem mais dúvidas e receios tem em torno de todo o processo, afirmando mesmo que não acreditam nesta solução.

“Isto apenas vem confirmar que o atual líder da Liga não tinha projeto consistente quando decidiu candidatar-se a presidente do organismo. Tem de pedir aos clubes para financiarem os campeonatos. O Sporting não vai financiar nada, pois não acredita no sucesso e na transparência de um modelo de negócio deste género”, afirmou a Record fonte leonina.

“Se forem Benfica e o FC Porto a pagarem as competições, estaremos a entrar num terreno perigosíssimo. É uma proposta que encerra muitos riscos em termos de verdade desportiva e que naturalmente desvirtua a competição”, acrescentou a mesma fonte que, por outro lado, fez questão de salientar o posicionamento do clube de Alvalade em relação à Liga. “Há muita poeira no ar. O Sporting participou e vai continuar a participar nos grupos de trabalho. Esse foi, aliás, um processo iniciado pelo Sporting”.

Em resumo, o anunciado clima de pacificação em torno do futebol português pode não ser assim tão real ou, pelo menos, talvez o processo esteja mais demorado do que inicialmente se pensou. Certo é que todos os clubes desejam uma Liga forte, a exemplo do que se passa nas principais competições do Velho Continente, pois caso o caos recente vigore muito mais tempo pode estar em causa a sua própria sobrevivência. No entanto, os caminhos para lá chegar são vários e parece muito difícil eleger um que agrade, sem reservas, a todos os intervenientes.