14 dezembro 2010

Selecção espanhola "dopada" nos títulos?

Publicamente, Eufemiano Fuentes só falou por intermédio do seu advogado, para garantir que nada tem a ver com a rede de doping desmantelada na semana passada, na Operação Galgo da Guarda Civil espanhola. Mas, antes de ser ouvido pelo juiz de instrução, o médico esteve detido nos calabouços da Plaza de Castilla, em Madrid, e partilhou com os seus companheiros de cela o que pensava acerca do último escândalo no desporto espanhol.
Um jovem de rua que esteve nas primeiras horas de domingo na companhia de Fuentes contou ao jornal El Mundo como o discurso "fluido e franco" do médico quase o convenceu da sua inocência, mas Fuentes também deixou entender que está a ser perseguido por saber demais. "Se dissesse o que sei, adeus ao Mundial e ao Europeu" de futebol ganho pela Espanha, terá afirmado o clínico, repetindo um discurso que já tinha marcado a Operação Puerto, em 2006, quando a Guarda Civil desmantelou outra rede de dopagem encabeçada por Fuentes.
Logo nesse ano, as primeiras informações oficiais da Guarda Civil apontavam para uma lista de clientes que abrangia vários desportos e não só o ciclismo. O presidente da União Ciclista Internacional (UCI), Pat McQuaid chegou a citar dados da polícia ao garantir que o esquema abrangia outras modalidades. O próprio Fuentes disse que tinha clientes "atletas, tenistas, futebolistas, andebolistas e pugilistas", e a sua ex-mulher, Cristina Pérez, ameaçou fazer revelações que manchariam o resultado obtido por Espanha nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992.
O Le Monde chegou a publicar em 2006 um artigo com base em "planos de preparação" do Barcelona, Real Madrid, Valência e Bétis, em que "a utilização de produtos dopantes era recomendada" (com anabolizantes, IGF-1 sintético, produto da transformação, pelo corpo, da hormona de crescimento, eritropoietina e transfusões sanguíneas), documentos estes escritos à mão por Fuentes e que tinham escapado às buscas policiais, pois estas tinham ocorrido apenas em Madrid e não nas Canárias. A acompanhar a notícia estava uma entrevista ao médico, deixando entender que este tinha sido a fonte que entregara os documentos ao jornal francês.
O próprio Fuentes admitiu na entrevista que alguns desportos "têm menos defesas que outros" e que há "alguns contra os quais não se pode ir, por disporem de uma máquina legal muito forte para se defenderem". Logo no dia a seguir à publicação da entrevista e aos desmentidos dos clubes de futebol e das ameaças de processo judicial, o médico apressou-se a desmentir o Le Monde e a garantir que não ia revelar nomes sobre o caso. O Barcelona avançou com um processo judicial contra o jornal francês. Trezentos mil euros foi o valor que um tribunal de primeira instância catalão chegou a obrigar o Le Monde e um dos jornalistas a pagar ao principal clube de futebol da Catalunha.
No final, a lista de alegados clientes de Fuentes reduziu-se a 58 ciclistas, com poucos a serem punidos disciplinarmente. O próprio processo criminal continua a arrastar-se na justiça e fica por saber se as palavras do médico servem apenas para afastar a pressão e o receio do que lhe possa acontecer, tendo com conta os antecedentes.
A resposta às últimas palavras de Fuentes veio da Catalunha. "Para mim é pena que aconteçam estas coisas no desporto espanhol. Não há ainda culpados, para é lamentável tudo isto. Desde o interior do futebol podemos dizer que não há qualquer tido de dopagem, ganhámos o Mundial com toda a certeza de não haver doping. Estamos tranquilos, não há problema", vincou Xavi, jogador do Barcelona e um dos artífices do título mundial ganho pela Espanha.
Já o seleccionador espanhol, Vicente del Bosque, disse à Europa Press que em 43 anos no futebol numa viu nem conheceu nada que pudesse "levantar suspeitas".
dn.pt

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