O jornal A Bola teve acesso ao auto de declarações do médico Luís Horta, presidente da Autoridade de Antidopagem (ADoP), recolhido pelo Conselho de Disciplina da Federação a 10 de Agosto, bem como ao auto de declarações de outro médico do organismo que esteve no dia 16 de Maio no estágio da Selecção, em acção de controlo antidoping.
No depoimento, Luís Horta, começou por sublinhar a «condição de ofendido» e por admitir que «os resultados tinham sido negativos em relação à totalidade das amostras recolhidas», acrescentando, todavia, que houve uma «não conformidade detectada» e que o médico responsável «foi notificado», mas que essa «não conformidade não levou a que se tivessem de realizar outro tipo de procedimentos».
Horta considerou ainda, perante o CD, a importância desta não conformidade como «relativa», pois, «se do controlo tivesse resultado caso positivo, em termos de procedimento disciplinar essa não conformidade poderia ser utilizada para criar problemas por parte da defesa do praticante».
Foi a esta não conformidade que Queiroz se referiu quando se queixou de falha no processo médico. De acordo com outro auto de declarações de um médico do ADoP que esteve na Covilhã, a referida não conformidade foi assim explicada: «A testemunha refere que quando fazem um controlo em grupo costumam validar o trabalho uns dos outros e neste caso não o fizeram». Este médico, «perguntado sobre se se sentia em condições para efectuar o trabalho, respondeu que sim» e que o controlo tinha sido efectuado, acrescentando que «dentro da sala onde se realizou estava tudo normal».
A perturbação e as perguntas
O médico em causa admitiu, porém, que se sentiu perturbado.
«Quando, nas suas declarações posteriores no IDP, refere a perturbação do trabalho significa que nunca foi recebido com a deselegância com que foi recebido na Covilhã e que ficou perturbado pelas palavras de Queiroz, porque tinha necessidade de estar concentrado no trabalho e não lhe saíam da cabeça as palavras do seleccionador», lê-se no depoimento. O mesmo médico explicou ao CD que nunca foi pedido aos médicos do controlo para que esperassem a hora de despertar dos jogadores e que, se tal tivesse sido solicitado, «teriam esperado mais».
Esta versão é diferente da apresentada pela defesa do seleccionador, que assenta no seguinte: Queiroz tomava o pequeno-almoço quando foi interrompido, perto das oito da manhã, por um médico da selecção dizendo que estavam no local médicos do ADoP e que não estava a conseguir com que esperassem até ao despertar dos atletas. Queiroz proferiu frase deselegante, mas, segundo admitido pelos médicos, ninguém terá perturbado a recolha das análises. Neste sentido, a defesa do seleccionador tem apontado para duas perguntas: onde estão os factos anunciados ao País como graves pelo secretário de Estado?; se é assumido que o controlo decorreu normalmente, a acção contra Queiroz baseia-se, afinal, no quê?
O jornal A Bola tentou contactar o ADoP para obter respostas e reacções, mas foi impossível obtê-las.
abola.pt
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