Ainda o 'caso Amorim'. "Isto tem um rosto, é a doutora Cláudia Santos. Não sejamos parvos"; Estrelinha leonina brilha ainda mais nos últimos minutos; Sérgio Oliveira destaca-se na elite

Um golo e uma assistência no triunfo do FC Porto frente ao Paços de Ferreira encerraram uma semana excelente para Sérgio Oliveira e reforçaram o lugar de destaque que o médio ocupa no futebol europeu. Entre as seis principais ligas, o camisola 27 dos dragões é o segundo centro campista mais produtivo, com 18 golos e seis assistências. Melhor só outro português e figura maior do Manchester United, Bruno Fernandes, com participação em 36 golos. Por outro lado, apenas no que aos disparos certeiros diz respeito, Bruno e Sérgio mantêm-se como os dois melhores, pela mesma ordem e, curiosamente, com igual número de golos obtidos através da marcação de penáltis: dez. E se é certo de que se trata de uma situação privilegiada para faturar, não deixa de ser relevante o elevado acerto que estes jogadores têm desde a marca de 11 metros, especialmente se nos lembrarmos que têm causado alguns dissabores ao FC Porto, nos últimos anos. Curioso é que o terceiro mais goleador seja também português: os 15 golos de Pedro Gonçalves, do Sporting, fazem dele o melhor marcador da Liga NOS, com a ressalva de nem sempre ser utilizado por Rúben Amorim no meio-campo.
De penálti, livre direto, meia distância e de cabeça, Sérgio Oliveira tem feito golos de todas as formas esta época. Aliás, em 2020/21, o jogador de 28 anos marcou quase tantas vezes (18) como no somatório das restantes temporadas a jogar em equipas no principal escalão português (20). Apenas o reflexo mais notório da preponderância que o médio assumiu na estratégia de Sérgio Conceição – só por uma vez o treinador abdicou de utilizar o jogador, quando o FC Porto foi a casa do Olympiacos, na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, já com o apuramento no bolso. De resto, só mesmo a covid-19 travou Sérgio Oliveira em duas partidas, mas já se sabe que, por castigo, falhará a primeira mão dos “quartos” da Champions, prova na qual é o médio com mais golos marcados, cinco, os dois últimos na noite que épica de Turim. Já no toca ao registo do FC Porto, o camisola 27 contribuiu, direta ou indiretamente, para 29,6% dos golos e é o terceiro mais utilizado pelo treinador, com 2965 minutos, atrás de Corona (3053’) e Mbemba (3000’). Bastam mais três jogos a Oliveira para igualar o seu máximo, que remonta a 2013/14, pelo Paços de Ferreira, mas esta já é, de longe, a melhor época da carreira.

Estrelinha leonina brilha ainda mais nos últimos minutos. Muito se tem falado na estrelinha de Ruben Amorim – até já há quem lhe chame constelação – mas, a verdade, é que não há como negar que o amuleto da sorte do treinador do Sporting tem brilhado, e muito, perto do fim dos jogos. Depois de mais um triunfo com um golo decisivo nos últimos minutos, em Tondela, há um facto inegável: os leões, que levam 45 golos no campeonato, gostam muito mais de acertar na baliza nos derradeiros momentos antes do apito final e talvez não tenha sido à toa que Amorim “prometeu” problemas de coração aos adeptos.
Contas feitas, das cinco primeiras classificadas, a equipa leonina, líder do campeonato, é a que mais golos leva nos últimos quartos de hora, com dez tentos entre os 76 e os 90 minutos, à frente de FC Porto (9), Benfica (6), Braga (5) e Paços de Ferreira (5). Nos descontos, os leões festejaram um total de sete golos, seis deles no tempo extra da segunda parte. Fora do tempo regulamentar, são os dragões que mais festejam: os azuis e brancos marcaram oito vezes, quatro em cada período de descontos. O Benfica leva três, todos por Waldschmidt, o Paços dois e o Braga um.
Mas desengane-se quem pense que o Sporting só é eficaz nos últimos minutos. A equipa de Alvalade, à semelhança do Benfica, também celebra no início e é a que mais marca nos primeiros 15 minutos, com sete remates certeiros, à frente de FC Porto, Braga e Paços de Ferreira, todos com cinco.
Os encarnados são dos mais eficazes nos primeiros minutos depois do intervalo – somam nove golos entre os 46 e os 60 –, tal como os azuis e brancos. Mas o jogo só acaba quando o árbitro apita três vezes.

"Isto tem um rosto, é a doutora Cláudia Santos. Não sejamos parvos. É patetice". António Oliveira não compreende como é que as entidades ligadas à justiça desportiva, em Portugal, têm Rúben Amorim no 'ponto de mira' por causa de uma queixa da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), mas não dão seguimento a outros processos ligados a alegada "corrupção".
"Isto tem um rosto, que é a doutora Cláudia Santos. Isto tem um rosto. Há uma denúncia de uma associação de treinadores, há um ano, há um ano. Acham que não há aqui alguma intenção de beneficiar ou prejudicar? Pelo amor de Deus, não vamos ser parvos", comentou António Oliveira, criticando a presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, e mostrando-se desagradado com o timing em que o processo conheceu desenvolvimentos, sobretudo porque o Sporting é líder e segue isolado na tentativa de conquistar um título que há quase 20 anos lhe escapa.
O antigo selecionador nacional português questiona as entidades que tutelam a justiça desportiva a respeito de outros processos que, a seu ver, são "mais graves" do que aquilo que Rúben Amorim é acusado pela Comissão de Instrutores da Liga.
"E os outros casos muito mais graves como a corrupção? Eu nem vou falar a quem eles estão direcionados. Porque não resolvem com maior celeridade? Vieram agora buscar o processo do Rúben Amorim, uma coisa em que ele até está autorizado e não comete nenhuma ilegalidade. Isto é uma patetice", reagiu António Oliveira.
Rúben Amorim, recorde-se, é acusado de "fraude", num caso que poderá valer uma condenação do treinador com pena de suspensão da atividade por um período de um a seis anos.
Oficialmente, os leões já destacaram que uma eventual condenação de Rúben Amorim poderá "constituir um dos episódios mais lamentáveis e surreais da história do futebol português”.
Em declarações no programa Trio d´Ataque, da RTP 3, António Oliveira lamentou que estes casos continuem a marcar a agenda do futebol nacional e, numa lógica de defesa do futebol português, aludiu às recentes declarações de Jorge Jesus, que tem pedido para que as figuras do futebol se sentem à mesa para debater o desenvolvimento da modalidade.
Oliveira entende que "quando o Jesus diz que os árbitros não percebem de futebol é mais uma chamada de atenção para que o futebol, se o querem salvar, tem de se entender. Têm de se entender árbitros, jogadores, treinadores, quem os tutela e cria as normas".
O ex-selecionador nacional português referiu que, pelo contrário, atualmente "as pessoas querem é fazer negócios com o futebol, ninguém se preocupa se está bem ou mal. Interessa é boas compras, vendas".
No programa, o antigo treinador dos portistas comentou também a recente passagem do FC Porto aos quartos de final da Liga dos Campeões, em Turim, diante da Juventus, num duelo que ficou marcado por um abraço entre Pinto da Costa e Sérgio Conceição no final.
"Pinto da Costa é um homem de afetos, de muitos afetos", comentou Oliveira, considerando que "esta idade de Pinto da Costa puxa mais pelos afetos".
Numa leitura ao abraço entre presidente e treinador dos dragões, Oliveira disse que até poderá ter duas leituras. "Pode ser o reconhecimento de tudo que o Sérgio Conceição enquanto profissional tem feito pelo FC Porto. A outra [leitura] pode ser um 'até que a morte nos separe'. Agora escolham qual das duas estará [no abraço] ou quiçá a duas".
Satisfeito com o apuramento azul e branco, Oliveira mostrou-se feliz com o trabalho que Sérgio Conceição tem vindo a revelar. "Acho que o Sérgio está a ficar um doutor de balneário, um catedrático de balneário", disse, deixando também uma palavra de agradecimento para os elementos da estrutura portista.
"O FC Porto tem um staff de altíssima competência", referiu, esperando que a caminhada na Champions possa durar o mais longe possível, tal como 'não atira a toalha ao chão' no campeonato.
"Estamos na luta. Enquanto matematicamente for possível", disse António Oliveira, numa altura em que o FC Porto tem dez pontos de desvantagem para o líder Sporting.