R – Tem tido tempo para espreitar o que se passa no futebol português?
JM – Não tenho visto muito, confesso, mas quero enaltecer o facto de a época passada ter sido muito competitiva. Até ao fim do campeonato não se sabia quem ia ser o campeão. E isso é bom, embora nós, treinadores, queiramos ser campeões com 20 pontos de avanço. É o que se quer a bem da competição. Foi o Braga a lutar com o Benfica até ao fim, como este ano pode ser outra vez o Braga, o FC Porto ou mesmo o Sporting.
R – Vê com naturalidade o Benfica novamente campeão?
JM – Não me surpreendia nada ver o Benfica de novo campeão. Se o FC Porto foi bi ou tri, porque não há de o Benfica ser também? Será perfeitamente normal. Tem equipa para isso, fez uma aposta clara em manter a estrutura do seu plantel, porque tem legítimas aspirações. Quer voltar a ser campeão e quer regressar à ribalta do futebol europeu, lutando pela Liga dos Campeões. Mas, repito, não tenho grandes condições para poder avaliar as equipas. O que eu gostava de dizer é que acho que era merecido para o Braga jogar a fase de grupos da Liga dos Campeões.
R – A propósito de Benfica, porque deixou sair o Rodrigo?
JM – O Rodrigo é um dos maiores talentos da cantera do Real Madrid. Um jogador com grande potencial que o Real Madrid aceitou vender ao Benfica por dois motivos: primeiro, para acelerar a sua evolução, num bom clube e num bom campeonato. É o clube ideal para ele. Segundo, o Real vende mas com opção de recompra, e isso é uma prova evidente de que o Real confia na qualidade do jogador.
R – Que comentário lhe merece o facto de o seu antigo adjunto, André Villas-Boas, ser o novo treinador do FC Porto?
JM – Costumo dizer que no futebol já nada me surpreende. Se o FC Porto achou que ele era o treinador indicado, porque não há de ser? Os resultados é que determinam sempre se as decisões tomadas são as mais ou as menos corretas. Muitos podem perguntar porque é que escolheram alguém que nunca foi treinador na vida, a não ser nestes dois ou três meses na Académica. Tudo vai depender dos jogos e dos resultados. Se ganhar tudo é o treinador perfeito. Agora não venham fazer comparações comigo, porque eu quando fui para o FC Porto já tinha trabalho de campo feito, o que é bastante diferente. E ainda assim puseram-me muitos pontos de interrogação. Os resultados que consegui é que acabaram por dar razão à opção feita pelo presidente do FC Porto.
"Ambiente na Seleção não era o mais propício"
R – Esperava mais da Seleção no Mundial?
JM – Sinceramente, a Seleção não foi uma desilusão para mim. Quando soube do sorteio, disse que Portugal até podia não passar da primeira fase. Tinha no mesmo grupo um dos grandes favoritos ao título e uma equipa africana forte, a jogar no seu habitat natural. Não seria surpresa se fosse eliminado. Acabou em segundo no grupo. Não me parece que tenha sido um problema de maior jogar a seguir com a Espanha, que até foi campeã do Mundo, e ser eliminado. Não é um drama nem uma vergonha. Não me parece que tenha acontecido nada de anormal em termos de resultados. Mas há uma coisa que tenho de dizer, visto de muito longe, porque quase não vi jogos do Mundial e desta vez não fiz comentários nenhuns. Fiquei com a sensação de que as coisas nunca estiveram muito bem. O ambiente na Seleção não era o mais propício.
R – O selecionador tem condições para continuar?
JM – Ao nível dos resultados, como disse, não vejo que tenham sido dramáticos. Não foram assim tão negativos. Há muitas seleções que fizeram igual ou pior e os selecionadores continuaram, sem discussão. O Capello continua na Inglaterra, o alemão também fica, por exemplo. Agora estas coisas que têm vindo a público, que aconteceram, isso ultrapassa-me completamente. É às pessoas envolvidas que compete avaliar exatamente o que aconteceu e tomar as decisões convenientes. Em termos desportivos, repito, não vejo razão nenhuma para substituir o selecionador.
R – Como vê o futebol envolvido em mais uma confusão?
JM – Nós somos mesmo assim, complicamos muito tudo, mas depois também sabemos bem dar a volta às coisas.
R – Aragonés, o nome que se fala na eventualidade de Queiroz sair, seria uma boa solução?
JM – Não gosto. Sou contra treinadores estrangeiros na Seleção.
R – Que perfil precisaria de ter um novo selecionador?
JM – Ou é um treinador com uma grande carreira feita, que procura encontrar na Seleção uma última motivação, com menor pressão. Há casos assim na Europa, como o de Lippi, Capello ou Del Bosque. Ou então vai-se pelo caminho contrário, ou seja, o treinador que encontra na seleção um espaço que lhe possa servir como rampa de lançamento. Temos casos como os de Van Basten, o de Löw, Klinsmann, o próprio Dunga quando começou, ou do Laurent Blanc, que só tem um ano de experiência no Bordéus.
R – Em Portugal há nomes assim?
JM – Tendo em conta estas duas perspetivas, vejo em Portugal um grupo de treinadores. Mas acho precipitado estar a falar nisso agora. Espero que as coisas se resolvam da melhor maneira possível e que o que aconteceu não passe de algo que seja possível de resolver.
Esta entrevista prova duas coisas:
ResponderEliminar1 - que a gratidão é uma qualidade que Mourinho não possui.
2 - que este blogue encaixava na perfeição no tempo da Ditatura.