28 dezembro 2020

Eusébio fora do(s) melhor(es) onze(s), com erro nos pontos. Franceses 'defendem-se': “Pedir a um grupo de pessoas para avaliarem o trabalho de um jogador que jogou nos anos 60..."

Dos 33 nomes escolhidos por mais de 140 jornalistas de todo o mundo, falta, pelo menos, um que marcou a história do futebol em Portugal e no mundo: Eusébio da Silva Ferreira. Coordenado pela revista francesa France Football, este júri decidiu os onze melhores jogadores de sempre, incluindo ainda duas equipas completas de suplentes. O atacante luso-moçambicano, vencedor da Bola de Ouro em 1965 e nome mítico do Benfica e da seleção portuguesa, foi deixado de fora das opções destes jornalistas. A France Football entrega desde 1956 o Ballon d’Or e, pela primeira vez na sua história, não vai nomear um vencedor. À falta de galardão este ano, fruto da pandemia da covid-19, a revista francesa decidiu assim lançar “o melhor onze de sempre”. Cada um dos 140 jornalistas escolhidos teve direito a escolher, entre 10 candidatos, o seu “quinteto” de melhores de sempre, entregando, respetivamente, 6, 4, 3, 2 e 1pontos.
Eusébio não figurou no onze principal, nem sequer em nenhuma das equipas suplentes publicadas. Esta realidade é, no entanto, curiosa, uma vez que o “Pantera Negra” obteve uma maior quantidade de votos que Marco Van Basten, que ocupa o lugar na segunda equipa de suplentes onde, pela lógica do prémio, deveria estar Eusébio. O internacional luso recebeu um total de 275 pontos, colocando-o logo a seguir a Johan Cruyff, que obteve 562 pontos, e o brasileiro Ronaldo, que teve 576 pontos. Marco Van Basten, que integra a terceira equipa publicada pela France Football, obteve 264 pontos, 9 menos do que Eusébio. É o único caso na escolha dos jogadores em que, apesar de Eusébio figurar como terceiro na classificação dos “Avançados de centro”, ficou fora das equipas publicadas, substituído por Van Basten, que figurava no quarto lugar da tabela publicada na edição de 15 de dezembro da France Football.
Ao jornal i, fonte da revista francesa explicou que a confusão dos pontos poderá não ser mais do que “um erro de impressão”, em que os pontos atribuídos a Eusébio poderão não ser os corretos. A classificação manter-se-á, segundo o i apurou, com Van Basten no terceiro lugar e Eusébio em quarto, apesar de o jornal não ter conseguido confirmar os verdadeiros pontos do luso-moçambicano e do holandês internamente. Esta mesma fonte referiu, no entanto, que “a verdadeira equipa importante é a primeira, e as restantes são mais para ficar na história e conseguir incluir mais nomes”.
Importante será também referir que a redação desta revista elegeu, tal como todos os outros participantes neste galardão, os cinco jogadores que achava mais aptos para cada posição, atribuindo os respetivos pontos. Dentro dos avançados de centro, a France Football não deu um único ponto a Eusébio, nomeando, em ordem decrescente, Johan Cruyff, Ronaldo, Marco van Basten, Dennis Bergkamp e George Weah.
Ao i, José Manuel Delgado, subdiretor do jornal desportivo A Bola, referiu que, apesar de estar fora destas opções, “Eusébio faz e fará sempre parte da história do futebol, independentemente de estar ou não neste onze ‘lendário’ da France Football. “Eusébio não sai menorizado nesta eleição, não vejo que tenha sido maltratado”, referiu Delgado, que foi mais longe, defendendo que “estas escolhas são, na sua essência, lúdicas”, apontando o dedo a quem “leva demasiado a sério estas escolhas”.
Sobre a falta de Eusébio no onze principal, Erik Bielderman, jornalista do L’Equipe, relembrou, em declarações ao i, que “Eusébio jogou nos anos 1960, e não num passado mais próximo”. “Pedir a um grupo de pessoas para avaliarem o trabalho de um jogador que jogou nos anos 60 não é a mesma coisa do que pedir-lhes que avaliem um jogador dos anos 80 ou 90. Eusébio foi castigado pelo tempo, porque ele foi um jogador de classe mundial nos anos 60, mas por exemplo, Van Basten também foi um jogador de classe mundial, mas nos anos 80 e 90, então as memórias sobre ele estão mais frescas do que as memórias sobre Eusébio”, referiu ainda Bielderman, que confessou acreditar que o “Pantera Negra” “deveria efetivamente estar no onze principal”, não tendo conseguido resolver, ao i, o enigma dos pontos acima referido.
Já José Augusto, mítico companheiro de Eusébio, tanto no Benfica como na sele- ção nacional, confessou ao i achar “lamentável” que tenha ficado de fora da Dream Team da France Football, acreditando que, como afirma veemente, “é o melhor jogador português de todos os tempos”. A culpa, acusa José Augusto, vai ao encontro dos argumentos de Bielderman. “Talvez a idade dos jornalistas seja a causa desta escolha”, refere, lamentando aquilo que define como “um jornalismo não de esquecimento, mas de desconhecimento”, apontando o dedo aos jornalistas que “não fizeram o trabalho de casa”.
A falta do luso-moçambicano nos 33 escolhidos vai de mãos dadas com uma outra polémica que nasce desta escolha: a escassez de jogadores de origem africana nas escolhas dos 140 jornalistas envolvidos no processo. O facto foi apontado pelo antigo jogador do Barcelona Samuel Eto’o, que se queixou na rede social Twitter: “Nós, os africanos, já não existimos...”. A Eusébio juntam-se outros nomes do futebol com raízes africanas, como próprio Eto’o, George Weah e Didier Drogba.
Não foi só o Pantera Negra que faltou nas opções do júri da France Football. Figuras como David Beckham, Kaká, Muller e Puskas foram também desvalorizados pelos 140 jornalistas envolvidos. Iker Casillas, com 270 pontos, foi um dos nomes deixados de fora das equipas principais da France Football, tendo o júri colocado o soviético Lev Yashin como melhor guarda-redes de sempre (488 pontos), seguido de Gianluigi Buffon (406 pontos) e Manuel Neuer (302 pontos).
Nas listas de candidatos estava também o português Luís Figo, que acabou por não figurar em nenhum dos “onzes” publicados pela France Football. Com 176 pontos, o vencedor da Bola de Ouro em 2000 ficou longe do terceiro lugar na sua categoria, onde figura George Best e os seus 248 pontos. O fosso torna-se ainda maior para os primeiros dois patamares, com Garrincha (393 pontos) em segundo lugar e Lionel Messi, no “onze” principal com 792 pontos, que equivalem a 35,6% dos votos.
A culpa poderá estar, como defende novamente Erik Bielderman, “no tempo”. “Se olharmos para o Puskas e o Di Stefano, claro que foram estrelas mundiais, mas nos anos 50, e toda a memória que temos está em pequenos clips muito rudimentares de televisão”, ao passo que “com o Cristiano, por exemplo, temos horas e horas de gravações, estatísticas e outros números, que, inconscientemente, nos dão uma imagem muito mais elevada dos jogadores atuais, perante os que infeliz- mente não tiveram a sorte de ter grandes mecanismos de recolha de estatísticas”.
Só Cristiano Ronaldo conseguiu colocar Portugal nos 33 jogadores escolhidos, marcando presença no “onze lendário”, na posição de atacante esquerdo, com uns imbatíveis 730 pontos, tendo ficado por cima do brasileiro Ronaldinho (512 pontos) e do francês Thierry Henry (232 pontos), bem como de outros candidatos ao lugar como Karl-Heinz Rummenigge e Rivaldo. Para Erik Bielderman, a presença de Ronaldo no onze principal é “fundamental”, acrescentando ainda que “somos sortudos de poder ver jogar ao mesmo tempo Ronaldo e Messi”. A título de exemplo, o jornalista francês refere “uma janela de tempo única”, em que “podemos ver, comparar e pôr a discutir dois grandes génios do futebol”. “Cristiano Ronaldo tem necessariamente de estar no melhor onze de todos os tempos, junto de Lionel Messi, já que juntos estão a construir uma lenda da história do futebol”. Já José Augusto confessa que, perante Eusébio, nunca encontrou “um jogador melhor”, mas não retirou o mérito a Cristiano Ronaldo, que diz ser “sem dúvida o melhor jogador do mundo nestas épocas”.
O “onze lendário” da France Football, no esquema 3-4-3, tem na baliza Lev Yashin, acompanhado por Cafú, Franz Beckenbauer, e Paolo Maldini na defesa. No meio-campo, Lothar Matthäus, Xavi, Pelé, e Maradona, e no ataque Ronaldo “Fenómeno” e os únicos dois jogadores do plantel ainda no ativo, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Nas equipas suplementares ficaram nomes como Zinedine Zidane, Ronaldinho, Garrincha, Johan Cruyff, Michel Platini, George Best e Paul Breitner.

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