12 setembro 2016

A história da contratação de CR7 pelo Sporting

Os caminhos do Sporting e de Cristiano Ronaldo voltam a cruzar-se esta quarta-feira em Madrid. Aurélio Pereira, 68 anos, falou ao jornal Record sobre a chegada do craque a Alvalade e o impacto que ela causou, em 1997. "Veio para o clube certo", defende.

Por onde começou a contratação de Cristiano Ronaldo?
Havia uma dívida da transferência do Franco [antigo central, hoje treinador do Pedras Salgadas] que impedia o Nacional de inscrever jogadores se não pagasse direitos de formação, a nós e ao Odivelas. O Dr. Marques de Freitas, nosso presidente do núcleo na Madeira e simultaneamente sócio do Nacional, contactou-me, disse que o Nacional tinha um miúdo muito bom e perguntou se podia haver um encontro de contas.

De quanto era a dívida?
Seria hoje de 25 mil euros. Mas 5 mil contos, em 1997, tinha outro som [risos]. Quando a hipótese me foi colocada, nunca supus que pudesse ser possível. Mas, pelo respeito que tinha para com a pessoa, não quis ficar na dúvida. Face à insistência, disse-lhe: ‘O doutor manda-me o miúdo, paga as passagens.’

Paga as passagens?
AP – Foi o núcleo do Sporting na Madeira que pagou as duas passagens, porque ele viajou com o padrinho, o senhor Fernão Sousa. Era a primeira vez que recebíamos um jogador de 12 anos no centro de estágios e logo depois do primeiro treino o Osvaldo Silva e o Paulo Cardoso disseram-me que o miúdo de facto estava para além do que era normal.

Não quis ver por si próprio?
Eu era o responsável pelo futebol juvenil mas, sendo de formação técnica, nunca poderia fazer uma coisa às cegas. O melhor olheiro do Mundo é S. Tomé – ver para crer [risos]. Fui ver e confirmei tudo o que eles tinham dito: uma desenvoltura fantástica, velocidade de execução, jogo aéreo, pé esquerdo, pé direito… Mas o que me impressionou foi ver a aceitação dele perante os outros, mais velhos um ano. A dada altura ele volta-se para trás e diz: ‘Ò miúdo, tem calma!’ Aquilo para mim [risos]… Como é possível!? ‘Ó miúdo tem calma’, quando ele era mais novo?! Tive a sensação de que estavam todos completamente rendidos ao que tinha chegado naquele dia. Caiu no Sporting como um ‘OVNI’ [Objeto Voador Não Identificado]. Aquele futebol de rua, o à-vontade, o não ter medo de nada. Impressionou-me muito.

Portanto, não hesitou em propor o acordo à direção. Como foi essa parte da história?
AP – Não ficaria descansado se não informasse quem de direito, o Dr. Simões de Almeida, vice-presidente e diretor financeiro, e a Dra. Rita Figueira, a jurídica que teria de resolver problema com a Federação. Coloquei-lhes a questão por escrito e eles chamaram-me. Para os homens do dinheiro, um cêntimo é mesmo… um euro [risos]! Ele questionou-me.

Se seria uma ‘loucura’, talvez, ainda que não nestes termos?
Uma proposta daquelas não era muito vulgar. Mas falámos na administração, eu desci para a porta 10-A e passado meia hora a Dra. Rita [Figueira] ligou-me a dizer que ele tinha assinado. O Dr. Simões de Almeida foi perspicaz. Pressionou-me para sentir se eu estava convicto do que dizia. Curiosamente, uns anos mais tarde, no dia da inauguração do estádio, com o Manchester [United], encontrei-o sozinho a beber um café, num quiosque junto aos camarotes, e disse-lhe: ‘Então, o miúdo?’ E ele voltou-se para mim e respondeu: ‘Joga umas coisas, joga umas coisas!!!’ [risos]."

Como avalia a passagem de Ronaldo pelo Sporting?
Quem sou eu para questionar os nossos rivais, mas o Cristiano veio para o clube certo. Ele tinha tudo no seu ADN. Nós não lhe subtraímos nada. Aumentámos-lhe a possibilidade de criar. Foi o próprio Ronaldo mais tarde a transformar-se num jogador da indústria futebolística. Quando ele entrou no Man. United era mais artístico. Hoje sabe perfeitamente que o recurso não é o passe, é o drible.

Voltou a aparecer-lhe um jogador semelhante?
Temos jogadores fantásticos na equipa principal do Sporting. Todos com aquelas três qualidades que eu considero muito importantes: paixão pelo treino, pelo jogo e pela profissão. É muito difícil encontrar um talento ao nível de Ronaldo, Messi ou Figo com essas três qualidades. Por isso é que todos têm longevidade na carreira. O Ronaldo vai jogar nas calmas até aos 37/38 anos.

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