"O Sporting não tem obrigação de vender jogadores"

Carlos Vieira,vice-presidente e administrador da SAD para a área financeira é, a par do presidente Bruno de Carvalho, um dos responsáveis pelo sucesso da reestruturação financeira do clube. Em entrevista ao JN, o dirigente assegurou que não há necessidade de vender jogadores, atribuiu crédito ao treinador Jorge Jesus pelo contrato milionário com a NOS e explicou que a sociedade leonina atravessa um período de prosperidade, de investimento e valorização própria. Leia a entrevista ao JN do dirigente:

Em primeiro lugar, que balanço faz de pouco mais de três anos como responsável pelas finanças da SAD do Sporting e do clube?

Faço um balanço muito positivo. Por um lado, promovemos uma reestruturação que saneou as finanças do Grupo Sporting e criou condições para que a maioria do capital da SAD se mantivesse no clube. Por outro, alcançámos um patamar desportivo no futebol profissional, formação e restantes modalidades que recolocam o Sporting no lugar em que entendemos dever sempre pertencer. Pessoalmente, tem sido das experiências mais estimulantes e valorizadoras da minha vida profissional.

Disse há pouco mais de um ano que deseja tornar a Sporting, SAD na primeira sociedade em Portugal a distribuir dividendos. O que falta para isso suceder?

Essa questão tem duas respostas. A primeira deve-se claramente a uma impossibilidade prática – com os resultados transitados negativos que as anteriores gestões deixaram na SAD, não pode ocorrer distribuição de dividendos. A segunda resposta é uma pergunta que fará sentido, quando existirem condições, fazer-se aos acionistas – preferirão receber dividendos ou manter reservas na SAD que permitam uma ainda maior valorização do seu investimento? Gostaríamos de criar as condições para colocar esse dilema.

O orçamento da próxima temporada está definido?

O orçamento está definido. Tendo-se atingido a fase de grupos da Champions, a planificação da época em termos financeiros torna-se mais simplificada.

Há obrigação de vender jogadores e realizar um forte encaixe?

Não há qualquer obrigação de alienar direitos desportivos de jogadores. A reestruturação financeira foi clara. Numa primeira fase, resolver o défice de tesouraria e a reestruturação de créditos, colocando uma grande parte dos mesmos a médio e longo prazos. Numa segunda fase, em que nos encontramos, a valorização da atividade do Grupo Sporting, do património e do negócio.

Há quem diga que o Sporting não vende jogadores por causa da banca.

Isso é absurdo. O que os nossos parceiros bancários querem, em geral, é que os seus créditos estejam sustentados por ativos de valor superior. É isso que temos vindo a fazer. E estou em crer que, para além dos montantes já reembolsados pelo Sporting à banca acima do que estava contratualizado por via da performance que temos tido, a banca ainda terá revertido imparidades constituídas nos seus balanços.

O que podemos esperar no próximo Relatório e Contas? Saldo positivo? A SAD ainda estará em falência técnica?

Se nenhuma alienação for efetivada antes de 30 de junho, o resultado líquido não terá alteração significativa e manter-se-á a situação líquida similar à que temos agora. A expressão falência técnica é quanto a mim mal utilizada no caso de uma sociedade anónima desportiva, na medida em que é claro que há uma discrepância significativa entre o valor de mercado do plantel e o valor registado como intangível no balanço (22,5 milhões de euros a 31 de março último).

A entrada de Jorge Jesus e a aposta em jogadores experientes deu qualidade à equipa de futebol, mas as contas sofreram...

Eu não faria essa correlação. As contas este ano apresentam um resultado negativo em grande parte devido ao processo Doyen (representa 14 milhões de euros em 17 milhões de prejuízo nos primeiros nove meses da corrente época). Se o Sporting tivesse passado à fase de grupos da Champions este ano (como seria comprovadamente merecido face ao que se passou no play-off) o resultado líquido seria claramente positivo. O que posso dizer é que foi a dinâmica criada pelo treinador Jorge Jesus e a performance da equipa na primeira metade do ano que permitiu concretizarmos em dezembro um dos maiores contratos de direitos televisivos e sponsoring alguma vez vistos.

Como é que o caso contra a Doyen afetou as contas? Colocou o fair-play financeiro em risco?

O caso Doyen afetou as contas este ano, com a provisão que tivemos de registar em consequência da decisão do Tribunal Arbitral. Mas se tivermos em conta o ganho registado na época passada (que conduziu a um lucro na SAD de 19 milhões de euros) as coisas compensam-se. Quanto ao fairplay financeiro estamos perfeitamente equilibrados. Como foi comunicado à CMVM em outubro do ano passado, não só os resultados dos cálculos do fair-play financeiro são usualmente melhores do que as contas públicas (por via da desconsideração dos gastos com infraestruturas como estádio e academia e gastos com a formação) como, para além disso, os aumentos de capital próprio efetuados em 2014 permitem salvaguardar a eventualidade de um prejuízo acumulado nas três últimas épocas, incluindo a que agora finda, superior a cinco milhões de euros.